sexta-feira, 30 de junho de 2017

O SONHO



          ... Era uma mulher... (mulher da roça, e o marido também).  A mulher sonhou que estava comendo um biscoito, e achou que o sonho era um palpite pra jogar no bicho.  Jogou.  Jogou na cobra, pois o biscoito era redondo, enrolado, e ela achou que parecia uma cobra. Um bom palpite.


          Mas, quando saiu o resultado do jogo, que decepção... deu Tigre !

          A mulher então, desconsolada, contou para o marido (matuto), o que tinha acontecido;  que havia sonhado com biscoito, que jogou na cobra, etc, etc... mas perdeu.

          O marido, que ouvia atentamente a estória, chamou a atenção da mulher:

- "Ocê é que é burra, "muié !"  Perdeu porque não soube "intrepetá" (interpretar) o sonho!

- A mulher responde: "Omessa home", tigre com biscoito?  O que tem a ver uma coisa com a outra?

E o marido responde:
- "Ocê num sonhô que tava comento biscoito?
- Sonhei!
- Então... e biscoito é feito de que?  Não é feito de "trigue"?  Pois é no "trigue" que "ocê" tinha que jogá...

Moral da estória: quem joga no bicho, ter que saber "intrepetá" o sonho...




O JOGO DO BICHO



          Já faz algum tempo em que não se fala muito no "Jogo do Bicho", mas este jogo ainda existe por aí, em muitas cidades.  Ainda se joga (aposta), apesar de não ser um tipo de jogo aceito pelas autoridades.  Acho que a maioria das pessoas sabem do que estou falando.


          Mas eu vou contar uma estória.  Uma estória espirituosa, que ouvi contar sobre este assunto:

          ... Certa vez, um fazendeiro queria fazer uma "fezinha", no Jogo do Bicho.  Chamou então o seu capataz da fazenda (um homem simples), e falou:
- "fulano", vá até a cidade e me faça um joguinho.

          O capataz já sabia que se tratava do Jogo do Bicho, e perguntou:
- Em qual bicho o senhor quer que eu jogue, patrão?
... O fazendeiro pensou, pensou, estava assim meio sem palpite, então falou:
- Ah, jogue em qualquer bicho com a letra "A".
O capataz entendeu e disse: - Sim senhor!

          E ele foi para a cidade fazer o jogo.  Mas, quando foi de tardezinha, o resultado do jogo foi: "Elefante na cabeça!"...

          O fazendeiro então lamentou:  - Ihh... perdi!
          Mas o capataz respondeu: - Não patrão, o senhor ganhou!

          E o fazendeiro: - Ora, como assim ganhei?
          O capataz: - Uai! O senhor não mandou eu jogar em qualquer bicho com a letra "A" ?  Pois então, eu joguei no Alefante!  O senhor ganhou !

Moral da estória: Quem disse que Santo de casa não faz milagre?

terça-feira, 27 de junho de 2017

CASOS DE POLICIA



CASO I:

          Uma senhora vai à delegacia de polícia, apresentar queixa do marido.  Alega que o marido bebe muito, bate nas crianças e quer botá-la pra fora de casa.  Ao mesmo tempo, suplica ao delegado: "sabe seu dotô, mas eu não queria que o senhor prendesse ele não... Eu só queria, que o senhor desse um susto nele"...

          O delegado,já acostumado com essas queixas tão comuns, responde irônico:
- Ah, é só para dar um susto nele?  Está bem, eu vou me vestir de vampiro, vou lá e dou um SUSTO (!) no seu marido...


CASO II:
          Outro caso semelhante, é de uma outra senhora que comparece na mesma DPO de Resende-RJ, para dar queixa, desta vez, contra o seu genro.  E, conta o seu drama: "minha filha, vive com o fulano de tal.  Mas o meu genro bate muito nela... Minha filha está com o corpo todo marcado de tanto apanhar, e..."  O policial de plantão intervém:
     -  Mas, minha senhora, vai ver que a sua filha gosta de apanhar...
     -  Como assim? Por que o senhor diz isso?
     -  Sim, minha senhora, porque na verdade, quem deveria apresentar queixa era a sua filha, mas
        vai ver que ela gosta de apanhar.  Tem muita mulher que gosta.  Eu conheço muitas.  Mas elas
        não dizem, e nem largam do marido.  Por mais que sofram.  Vai ver que é o caso da sua filha.
        A senhora já pensou nisso?
O policial tanto falou, que a mulher ficou em dúvida, saindo da delegacia sem resolver o problema da filha.
          - ... "É, vai que os home tá com a razão"...


CASO III:
          Este caso ficou famoso em Resende.  É o caso dos baldes.  Vamos recorda-lo, para quem ainda não conhece.  Aconteceu na Cidade Alegria, em um daqueles blocos de apartamentos.

          Certa mulher casada, não obstante, ficava feliz em receber a visita cada vez mais frequente do "Ricardão" (na ausência do marido, é claro).  E, para tanto, bolaram um plano que funcionou bem durante certo tempo.  Até que um dia...

          Bem, o caso é o seguinte: eles combinaram uma senha: A COR DO BALDE; se o marido estava em casa, a mulher colocava um balde vermelho no lkado de fora da porta de entrada do apartamento, significando: "barra suja";  mas se o marido  não estava, ela colocava um balde verde, significando que o Ricardão podia entrar, que "a barra estava limpa"...

          Aconteceu que um dia, "o caldo entornou". A mulher esqueceu de trocar o balde verde pelo 
vermelho, e não deu outra: o Ricardão, cheio da confiança e liberdade para com a mulher, adentrou o apartamento como se estivesse em sua própria casa; e o maridão, naquele minúsculo apartamento, deu o "flagra"!!!... Foi a maior confusão.  O caso foi parar direto na delegacia, para gozação geral, principalmente dos radialistas que adoram estorinhas policiais desse tipo, para dramatiza-las em seus programas radiofônicos.

          Como diz o ditado: TANTO VAI O CÂNTARO À FONTE QUE UM DIA VEM QUEBRADO...

GAFITES

          Gafite, segundo Luiz Antonio Sacconi, professor de português de Ribeirão Preto-SP, é uma espécie de vírus que ataca, não os nossos computadores, mas a nossa língua portuguesa, falada ou escrita.  Seria, por assim dizer, o supra-sumo da gafe, a gafe levada ao seu limite máximo de intolerância.


          As gafes linguísticas que vamos apresentar nesta oportunidade, andaram rolando aí pela Internete, e foram-me enviadas por uma cunhada, que por sua vez, recebeu de uma amiga, "and so on",,,  São pérolas extraídas das redações dos exames vestibulares do ano de 2002, cujo tema foi "Mãe Natureza".  São muitas, e aqui apresentamos algumas, respeitando a forma, ou a grafia com que foram escritas:

"os desmatamento de animais precisam acabar"...
***
"precizamos de menos desmatamentos e mais florestas arborizadas"...
***
"é um problema de muita gravidez devido aos raios ultra-violentos"...
***
"os lagos são formados pelas bacias esferográficas"...
***
"o problema ainda é maior se tratando da camada Diozoni"...
***
"na época de Cristo não haviam hindustrias para poluir e assim mesmo haviam problemas sociais entre os povos"...
***
"o que é de interesse de todos nem sempre interessa a ninguém"...
***
"a natureza foi discuberta pelos homens a 500 anos atrás"...
***
"não preserve o meio ambiente, mas sim todo ele"...
***
"hoje endia a natureza não é mais aquela"...
***
"precisamos agir de maneira inesperável"...
***
"na Amazonas está cendo a maior derrubagem e extração de madeira do Brasil"...
***
"vamos deixar de sermos agoístas e pensarmos um pouco mais em nós"...
***
"por isso eu luto para atingir os meus obstáculos"...
***
"o fenômeno Euninho"...
... ... ... ... ... ... ... ... ...
Conclusão: de quem seria a culpa desta dramática situação? Do ensino que está cada vez mais ruim, ou dos nossos estudantes que estão cada vez mais desinteressados?
Não sei, é triste essa constatação, mas vales estas gafes, como terapia do sorriso...
Gafes das escolas

segunda-feira, 26 de junho de 2017

RIR OU CHORAR

PARA RIR OU CHORAR
          Talvez alguém ainda se lembre do fato: acho que foi no ano de 1978, quando o Jornal do Brasil trouxe uma pequena matéria intitulada "COBRA EPIGRAFADA".  Naquela época, achei aquele artigo simplesmente hilariante.  Parecia piada, mas o artigo chamava à atenção para uma dura realidade.  Realidade que ainda hoje assola este país em termos de cultura, e de agressão ao vernáculo.


          Tive o cuidado de recortar o artigo publicado, e guarda-lo.  Hoje, passados mais de 30 anos, ocupo-me nesta oportunidade, em reproduzir aquilo que foi publicado pelo JB.  Aqui vai, pois, a sua reprodução exatamente como foi escrito:

          ...Cobra epigrafada - Poucos textos ultimamente publicados conseguem ser tão deliciosos e ao mesmo tempo tão dramáticos quanto a página assinada por Eduardo Almeida Reis, no último número da revista Granja.

          Depois de se debruçar sobre os relatórios da Carteira Agrícola do Banco do Brasil, Almeida Reis pinçou frases neles contidas e as transcreveu tendo o cuidado de conservar a grafia e estilo dos fiscais do Banco. São muitas, e aí vão reproduzidas algumas:

-  "O sol castigou o mandiocal.  Se não fosse esse gigante astro, as safras seriam de acordo com as
   chuvas que não vieram".
***
-  "Mutuário triste e solitário pelo abandono da mulher, não pode produzir".
***
-  "Acho bom o Banco suspender o negócio do cliente, para não ter aborrecimentos futuros".
***
-  "Vistoria perigosa.  As chuvas pluviais da região inundaram o percurso que foi todo feito a custo".
***
-  "Trajeto feito a pé, porque não havia animal por perto.  Despesa grátis".
***
-  "O contrato permanece na mesma situação da vistoria anterior, isto é faltando fazer as cercas que
   ainda não ficaram prontas".
***
-  "Foi a vistoria feita a lombo de burro com quase u quilometos".
***
-  "Está vendendo em barraca emprestada de dia e de noite fazendo coisa boba".
***
-  "A máquina elétrica financiada é toda manual e velha".
***
-  "Financiado executou o trabalho braçalmente e animalmente".
***
-  "O gado está gordo e forte mas não é financiado e sim emprestado para fins de vistoria que abri
   o bico".
***
-  "O curral todo feito a caprixo.  Bem parecendo um salão de baile a fantasia".
***
-  "cobra - Comunico que faltei ao expediente do dia 14 em virtude de ter sido mordido pela
   epigrafada".
***
-  "Visitamos o açude nos fundos da fazenda e depois de longos e demorados estudos constatamos
   que o mesmo estava vazio".
***
-  "Os anexos seguem em separado".
***
-  "A lavoura nada produziu.  Mutuário fugiu montado na garantia subsidiária".
***
-  "Era uma ribanceira tão ribanceada que se estivesse chovendo e eu andasse a cavalo e o cavalo
   escorregasse, adeus fiscal".
***
-  "Tendo em vista que o mutuário adquiriu aparelhagem para processar inseminação artificial, e
   que um dos touros holandeses morreu, sugerimos que se fizesse o treinamento de uma pessoa
   para tal função".
***
          A bola fica pois, com Almeida Reis, que termina lamentando a tragédia de um país que tem tido sua Agricultura entregue aos leigos de todo gênero, tragédia de confiscos, tabelamentos, alucinação fiscal e fundiária, loucura dos juros, em meio ao Governo de quem falou, um dia, em prioridade para a Agricultura.


CAUSOS

O nome da criança.
          Lá pras bandas de Minas Gerais, em determinada cidade do Sul de Minas, uma senhora chega ao Cartório para registrar seu filho recém nascido.  O homem do Cartório pergunta:

-  Como é o nome da Criança?
-  É Gasogênio.
-  Como?
-  É gasogênio.
-  Eu perguntei como é o nome da criança...
-  É Gasogênio.
-  É Gasogênio?!...
-  É... é Gasogênio.
-  Mas isso não é nome que se dê a uma criança.
-  Mas é o nome que eu escolhi; é Gasogênio !
-  Olha, minha senhora, explique-se melhor, ou eu não poderei registrar o seu filho, o Gasogênio.  De onde foi que a senhora tirou esse nome?
-  "Óia moço"...  O pai dele se chama Egas.  E "Ogênio" é o avô dele.  É Gasogênio.
E foi então que o homem do Cartório entendeu que o nome correto da criança seria, e como de fato foi registrado, o nascimento de Egas Eugênio.
================================

Epitáfio
          Outro "causo"interessante e verdadeiro, aconteceu lá pras bandas de Airuoca,, num lugarejo chamado Lagoa.  Este "causo", foi o meu pai quem me contou.  Mas já faz muito tempo.  Ele visitava um cemitério, o qual acho que nem já existe mais.  Havia lá um túmulo, onde estava escrito à mão, sobre uma lápide:  AQUI  JAZ   DANAVI   TORIANO   GUEIRA.
Que nome esquisito, pensou ele.  Meu velho pai, guardou aquele nome na cabeça, e nas suas horas calmas, ficava "matutando" sobre aquilo, ou seja, sobre o estranho epitáfio.
"De pensar morreu um burro", diz um ditado caipira.  Mas foi assim, der tanto pensar, que o meu pai se deu conta do que ali estava escrito.
Aquela inscrição, do tipo muito comum em quase todos os túmulos, na verdade, queria dizer: "Aqui jaz, Dª  Ana  Vitória  Nogueira".  Faltou apenas, uma grafia melhor, para que se pudesse ler corretamente, a fúnebre inscrição.
=================================

De leve...
          Para finalizar, este caso também aconteceu lá nas Minas Gerais;
... Um homem, estava muito doente, e se encontrava acamado havia vários dias.
Pressentindo que poderia morrer de uma hora para outra, chamou a esposa e falou meio pesaroso, e com certo embargo na voz:
-  Óia, muié... se acaso eu morrer, vê se ocê casa com o cumpadi Bastião; ele é um home muito bão, e...
Mas a mulher logo interveio:
-  Ah, não, com o cumpadi Bastião não, eu já tô di ôio no Cródio (Claudio)...
Sem comentários, né? Até a próxima.
==================================
casos que acontecem

domingo, 25 de junho de 2017

O TIÃO BENTO



          "Era um garoto, que como eu, amava os Beatles e os Roling Stones"... Esta música, muito conhecida, inicialmente gravada pelo conjunto "Os Incríveis", e depois foi regravada pelo conjunto Engenheiros do Havaí.  É sempre bom recordar, curtir algumas lembranças.  Lembro-me de um garoto chamado Sebastião Bento.  O Tião Bento, como era conhecido.  Só que de "bento", ele não tinha nada.  Pelo contrário; era um garoto encapetado. Levado a breca. 


          Esta música, lembra também a rebeldia que caracterizava a juventude dos anos sessentas, e que afetava os costumes, como as roupas; a mini saia para as meninas, e cabelos compridos para os homens.  Geralmente era assim, sem maiores agravos, pelo menos nas localidades distantes das grandes capitais, onde então sim, aí se registravam alguns "happenings".

          O Tião Bento era um garoto dessa época.  Ele porém, não tinha cabelos compridos, nem usava roupas extravagantes, mas era terrível.  Era um rebelde; pichava com giz branco as portas das salas de aula da escola, e todos os dias aprontava as traquinagens mais diversas com os colegas.

          Garoto inteligente apesar de tudo, o Tião Bento tinha uma especialidade: inventava apelidos para todos os colegas de escola.  E cada apelido, era uma caricatura que apontava para as sutilezas de cada um.  Como por exemplo; um garoto que era pobre, feio, matuto, de cabelos mal cortados e portador de um estrabismo; o Tião Bento arranjou-lhe um apelido: era o "Simão Caolho" ; outro garoto, descendente de italianos, era fisicamente gordo, muito gordo, e por isso mesmo, ou seja, pelo seu excesso de peso, o seu caminhar era lento; o Tião Bento apelidou-o de "Elefante sem rabo"; outro coleguinha moreno, bem moreno, de cabelos pretos, era o "Bode Preto";  um garoto, alto e magro, era o "Girafa"; 

          E havia um menino, esse sim, era meio esquisito: crescera mais do que o normal; e embora tivesse mais ou menos uns 12 ou 13 anos, o seu porte físico lhe dava uma aparência de dezoito anos ou mais.  Tinha também uma cabeça grande, desproporcional ao restante do corpo.  Quando ele brincava, parecia um garoto agigantado em meio às outras crianças de estatura normal.  O Tião Bento apelidou-o de "O Troção"...

          E assim prosseguia o capetinha do Sebastião Bento, sempre apelidando maldosamente os coleguinhas: o "Bolao", o "Azeitona", o "Dito Surdo", etc.

          Mas, tudo neste mundo tem volta: até mesmo no mundo infanto-juvenil. Estávamos nessa época, na 4ª série do Curso Primário.  A professora nos dava uma aula de geografia,  e falava das Caatingas do Nordeste.  Ela explicava que caatinga era um tipo de vegetação do Nordeste semi-árido, e que os sertanejos daquela região, usavam uma espécie de capa de couro sobre as calças, para proteger-se dos espinhos.

          Enquanto a Professora continuava com suas explicações, aconteceu que dentro da sala houve uma briguinha.  Do tipo bate-boca; entre o Tião Bento e outro garoto.  O Tião Bento chamou o garoto de "fedorento".  Mas o coleguinha deu-lhe o trôco: - Fedorento é você, CATINGA DO NORDESTE! Nesse momento, todos os meninos da classe cairam na gargalhada, e o apelido pegou.  Nunca mais o Tião Bento foi chamado de outro nome.  O feitiço havia se virado contra o feiticeiro.

          Aquele que antes era só o Tião Bento, a partir daquele instante fora promovido: seria para sempre e merecidamente, o CATINGA DO NORDESTE.

quinta-feira, 22 de junho de 2017

QUASE UM SEMINARISTA

          Em frente ao Ginásio São Miguel, em Passa Quatro-MG, havia um Seminário dos padres da Congregação Belo Ramo.  Posteriormente, as instalações desse Seminário foram utilizadas para dar lugar ao Colégio Técnico Industrial.  O Seminário foi desativado, ou transferido talvez para outra cidade.


          Mas, quando esse Seminário funcionava como tal, era destinado a acolher aqueles estudantes que tivessem ou postulassem a "vocação sacerdotal".  E foi assim, que du "quase" virei um seminarista, ou noviciado.  Mas há uma estória que preciso contar, pois não foi exatamente a minha vontade.

          Vamos à estória... ... no Ginásio São Miguel, havia um padre que era muito meu amigo; ele se chamava (ou se chama, pois não sei por onde anda esse padre, se ainda está vivo, Deus queira que sim).  Mas, como eu ia dizendo, esse padre era o Antonio Scarpa (família de Itanhandu),  era professor de francês no Ginásio.

          Ele gostava muito de cinema, e no Ginásio São Miguel havia um projetor de filmes 16 mm.  O padre Scarpa, resolveu então ativar o cinema, que se encontrava parado havia muito tempo.  Para isso, fez um convênio com uma distribuidora de filmes de aluguel.  Essa distribuidora enviava então uma "batelada", ou seja, uma grande quantidade de catálogos de filmes, para que o Ginásio escolhesse e encomendasse os filmes desejados.  

          Cada catálogo era uma sinopse (resumo) do filme.  - Era trabalhoso ler cada resumo de cada filme. Demandava tempo.  E eu ajudava o padre Scarpa nessa tarefa, pois eu também gostava de cinema, e para mim, não era trabalho nenhum, eu gostava de ficar sabendo da estória ou do enredo de cada filme.  

          A escolha do filme a ser encomendado para o Ginásio ficava a meu critério, e tinha que ser escolhido meticulosamente,  porque havia uma restrição;  a sociedade da época, era muito conservadora, e um colégio de padres não podia exibir qualquer filme; se houvesse muitas cenas de beijos, não podia.  Tinha que ser rejeitado.

          Eu me lembro, que selecionei vários filmes, e um deles, era o "Hatari", um filme com John Wayne, que contava uma aventura na África selvagem, muitos animais, etc.  -  Bem, devido a essa minha dedicação, o Pe. Scarpa ficou meu amigo, e queria me ajudar de alguma forma.  Ele insistia e insistia muito, para que eu ingressasse no Seminário anexo ao Ginásio, e me tornasse um seminarista. A proposta dele era: "você fica aqui neste Seminário por 2 anos, se preparando, e depois você vai para Belo Horizonte, e lá estuda por 4 anos.  Após este período, você poderá ir para outro país: Itália ou França (ele próprio tinha ido para a França), ou outro país qualquer.

          Esses estudos eram todos gratuitos.  Eu não teria nenhuma despesa.  Eu penso que o padre Scarpa queria me encher os olhos, com viagem para o exterior, por exemplo.  Mas, nu fundo, eu não queria isso  Eu nunca havia pensado em me tornar padre, não era minha vocação. 

          Mas, devido a sua insistência, eu comecei a frequentar o Seminário, e estudar o que me mandavam, ou o que era preciso.  Mas, eu não fui sozinho; junto comigo ingressaram mais 5 alunos, comigo 6, mas, deses seis apenas um continuou seus estudos, e não sei se de fato chegou a tornar-se um padre.  No meu caso, quando eu estava perto de completar 3 meses, eu desisti, e abandonei o Seminário.  Eu não havia ingressado ali por minha vontade, mas sim, por livre e espontânea pressão do padre Scarpa.

          A vida, ou a frequência no Seminário, era uma chatice.  O Seminário era todo cercado de muro. Por dentro, havia uma Capela, várias salas, e um corredor comprido, formando um quadrado contornando o pátio central, gramado, onde saltitavam colelhos de orelhas compridas.  Eu tinha que ficar todos os dias andando, por esse corredor, lendo um livro, que nada mais era, do que o Novo Testamento.

          A orientação, era de que eu praticamente teria que decorar esse livro, pois quando chegasse o momento (da minha transferência para Belo Horizonte), eu teria que estar muito bem preparado.  Confessar e assistir às missas, era obrigatório.  Justamente o que culminou com a minha desistência do Seminário, foi o ato da confissão, que era assim frente a frente com o padre confessor. 

          Havia ali, nesse Seminário, um padre já meio idoso, que se chamava Pe. Eduardo (acho que o seu sobrenome era "Ivel", de origem estrangeira, francês, não sei ao certo).  Bem, eu fui me confessar com o Pe. Eduardo.  Mas eu não sabia que pecado contar, pois eu passava a maior parte do tempo ou no Ginásio São Miguel, ou no interior desse Seminário, na parte da tarde.  Dormir, eu dormia em casa mesmo. Eu estava numa fase de treinamento.  Como eu não sabia o que contar para esse Pe. Eduardo, eu "inventava" pecados que eu não havia cometido, ou seja, pecadinhos bobos, como; "eu fui ao cinema escondido..."

          Quando eu disse isso, o bom e velho padre achou uma graça tremenda, e começou a rir, assim como faz o papai Noel: Ho, Ho, Ho!  Ele começou a rir, e eu fiquei sério, me sentindo assim como se diz: "pê da vida", porque ele estava rindo de mim.  Então eu disse ao velho padre: - Sabe, seu padre, o meu maior pecado é que eu não acredito nada do que estou aprendendo aqui..." Nossa!, Desta 
vez foi o padre que ficou sério, e me mandou imediatamente ir para a Capela, ajoelhar e fazer um exame de consciência (praxe antes da confissão), e depois disso voltar para fazer a minha confissão.

          Saí dali, daquela sala, fui até o portão de saída do Seminário, e... "me mandei", nunca mais quis saber de "virar padre".

          Algum tempo depois, eu me arrependi de ter respondido daquela maneira para o bondoso e velho padre Eduardo, porque na verdade, eu tinha uma boa formação religiosa até aquele momento. Mas, o que aconteceu, foi um momento de rebeldia de minha parte, porque eu não estava me sentindo bem ali, pressionado a aceitar tanta coisa que era contra minha vontade.  Não sei bem como explicar, mas é verdade que naquele momento sim, eu cometi um pecado de verdade, por pensamento palavras e obras.  Por minha culpa, minha máxima culpa.  Até home me arrependo. Mas, eu só posso pedir a  Deus que me perdoe.  Arrependido estou.
Seminario Belo Ramo

O COIÓ

Menino tolo          Coió é uma palavrinha espirituosa; parece gíria, mas existe de de fato.  Alguns dicionários a registram com o significado de menino tolo.

          ... Era uma vez um menino.  Seu nome era Luiz.  Não se lhe conhecia o sobre nome, pois todos o chamavam de LUIZ.  Ele não tinha nem mesmo um apelido, como era comum a tantas outras crianças da sua idade. Luiz tinha 10 ou 11 anos, e possuía alguns traços marcantes: cabeça grande, sobrancelhas negras e espessas emendadas uma à outra sob a testa; uma expressão jocosamente caipira.  Parece que fora caracterizado ou produzido para participar daqueles folguedos juninos. Mas não; estas eram suas feições naturais, e não obstante, a sagacidade e as brincadeiras das outras crianças, lhe pouparam o desconforto de uma alcunha injuriosa.

          Na bucólica cidadezinha onde morávamos, um rio separava a cidade do campo.  Era o rio Passa Quatro.  A cidade crescera ocupando a margem esquerda do rio, e na margem direita, via-se apenas alguns casebres, e os terrenos de uma fazenda.  Margeando o rio, havia também uma estreita estrada de terra.

          Luiz morava no campo, num daqueles casebres que formavam a paisagem.  Bastava-lhe atravessar uma ponte de madeira sobre o rio divisório, caminhar uns cem metros, e já estava na cidade.  Esse trajeto, não demorava mais que 10 minutos de sua costumeira caminhada.

          Aos domingos, eu costumava passar boa parte do dia, pescando à beira daquele rio.  Era um rio pequeno, de corredeiras rasas, mas embaixo daquela ponte, formava um volume d'água, semelhante a uma lagoa, que a gente chamava de poço fundo.  O local era ótimo para uma pescaria, e o rio era rico em pequenos peixes.

          O Luiz, sem ter algo para fazer objetivamente, também passava boa parte do dia como "barata tonta", ou seja, atravessando a ponte sobre o rio, de um lado para outro, no trajeto de sua casa para a cidade, e vice-versa:
          - Aonde você vai, Luiz?
          - Vou para a cidade.
          - Fazer o que?
          - Nada...
          - Ôoh, Luiz! Aonde você vai?
          - Vou para casa.
          - Fazer o que?
          - Nada...

          Do sossego da minha pescaria, eu observava o garoto; me parecia sem nexo suas idas e vindas, de lá pra cá,  de cá pra lá... e para nada...(?)  Podia-se repetir mil vezes aquelas perguntas, que as respostas do garoto eram invariavelmente as mesmas. E cada vez que o Luiz passava por ali, cruzando a ponte, ele também fazia suas perguntas sempre repetitivas:
          - Pegou "ARGUM?" (ele queria saber se eu havia apanhado alguns peixes).
          - Sim... (eu respondia).
          - Deixa eu ver?"  (Eu lhe mostrava uma fieira de peixes, e ele se dava por satisfeito);
          - AAHHH!...

          Na ida para a cidade, ou de volta para sua casa, naquele vai e vem, o Luiz queria saber: - "pegou argum?"; "deixa eu ver?"..
Certa vez, acho que eu não estava muito bem humorado,  e antes que ele me perguntasse se eu havia "pegado argum", fui logo respondendo:
          - "Argum" não peguei não, ôoh, Chico Bento, peguei foi lambari, mandi, timburê...
          - "Deixa eu ver?"
          - A cobra comeu...
          - AAHHH!...
          O garoto era tão chato e tolo, que até esta estória ficou parecida com ele; assim, meio coió, sei lá...


sábado, 17 de junho de 2017

PADRE MICHEL

Coral - Alunas do INSA e alunos do Colégio São Miguel

          O Padre Michel foi um grande mestre do Ginásio São Miguel, educandário de Passa Quatro-MG.  Ele era professor em várias matérias: Francês, Latim, Desenho, Canto Orfeônico (que depois foi abolido como matéria).


          O Pe. Michel entendia de música, e mantinha um coral sob sua direção e regência, Esse coral, era formado por alunos do Ginásio São Miguel, e alunas do INSA- Instituto Nossa Senhora Aparecida (Escola Normal dirigida por feiras, educandário feminino situado também em Passa Quatro).  Na capela do Ginásio, ele tocava órgão (músicas sacras), durante as missas que eram frequentes naquele colégio católico.

          Além de professor e músico, o Pe. Michel também era fotógrafo, e todas as fotos dos alunos do Ginásio (fotos 3 x 4) era ele quem tirava e processava (revelava) no laboratório fotográfico do Ginásio. Tirava fotos também de todos os eventos que aconteciam, envolvendo os alunos, tais como futebol, desfiles, formaturas, reuniões da U.E.C. (União Estudantil Católica).

          Não bastando todas essas atividades, era também tesoureiro, encarregado de receber as mensalidades dos alunos (internos e externos). **  O Pe. Michel era de nacionalidade francesa, mas falava o português com perfeição, sem qualquer sotaque característico de pessoas estrangeiras.

          Nas suas aulas de francês, ele falava da França com muito orgulho, como se fosse, um país maravilhoso, o melhor do mundo. Ele exaltava as regiões da França, como L'Ile de France, La Normandie, La Bretagne, etc. Falava de todas as diferentes regiões e o que elas produziam, como vinhos, perfumes (os melhores do mundo), etc.

          O Pe. Michel também dava aula de religião, mas não era de mentalidade muito aberta como o Pe. Domingos.  Não.  Ele se prendia muito à Bíblia, e gostava de ensina-la aos seus alunos, sem entrar muito em assuntos polêmicos, ou mais aprofundados.

          Certa vez, ele ensinava o seguinte: era sobre a estória de Abel e Caim.  Pela minha lembrança, era mais ou menos assim: ... naqueles tempos bíblicos, era costume oferecer a Deus sacrifícios, ou seja, um animal (ovelha) era abatido e ofertado a Deus, sobre uma fogueira ardente.   As oferendas ou sacrifícios de Abel eram sempre aceitos por Deus, mas as oferendas de Caim, essas Deus não aceitava, e isso provocou ciúmes entre os irmãos Caim e Abel, e que culminou com Caim assassinando Abel.

          Eu me lembro, que perguntei ao Pe. Michel, como é que eles (Caim e Abel) sabiam que Deus aceitava ou não aceitava esses sacrifícios ofertados, tendo em vista de que Deus não era uma pessoa, mas sim, de natureza espiritual, como a gente já tinha aprendido.  Bem, o Pe. Michel me deu a seguinte explicação: quando um sacrifício (oferenda) era aceito por Deus, a fumaça da fogueira subia aos céus, e quando não era aceito, a fumaça se espalhava... ...

          Seria verdade? Onde é que estava escrito isso?  Mas, naquela ocasião, eu não tive mais argumentos diante dessa resposta.  Aceitei, porque o Pe. Michel assim justificou.  Mas, se fosse hoje, eu diria, como aquele personagem da Escolinha do professor Raimundo: "Há controvérsias...".  Mas deixa prá lá, isso já passou. Estou apenas recordando um momento que ficou na minha lembrança.

          Mais tarde, o Pe. Michel assumiu a Paróquia de Passa Quatro, com a morte do Monsenhor Olavo Magalhães Caminha.  Pelas suas qualidades e versatilidade, pode-se reconhecer que de fato, o padre Michel era um homem inteligente, grande professor, e que deixou saudade em todos aqueles que foram seus alunos.  Deus faz maravilhas através de homens como o Pe. Michel, e por isso, ele será abençoado, onde ele estiver, o saudoso mestre, professor e amigo, padrfe |Michel.

(** Uma observação: eu mencionei alunos internos e externos; isto porque naquele tempo era assim, esses Colégios, tanto o Ginásio São Miguel como o INSA (colégio de freiras), funcionavam como internatos, havia alunos de muitas cidades do Sul de Minas, como: Maria da Fé, Pedralva, Lavras, Virgínia, Bocaina de Minas, Minduri, e tantas outras. Não só de Minas, como também do Rio de Janeiro e Angra dos Reis.  Os alunos de Passa Quatro, eram todos externos, porque moravam na cidade e não precisavam de internato.  E para controlar essa grande quantidade e variedade de alunos, haviam muitos regulamentos que eram rigorosamente observados pelos alunos.,
Na foto acima, vemos o Padre Michel com o seu Coral: alunas do INSA, e ao fundo alunos do Ginásio São Miguel)

PADRE DOMINGOS

Padres da Congregação Betharramita

          Revmo. Pe. Domingos, Diretor e Professor do Ginásio São Miguel, de Passa Quatro-MG, um dos melhores educandários do Sul de Minas, que era dirigido pelos padres da Congregação Betharramita.  O Padre Domingos, era carinhosamente chamado de "Domingão".  Ele não ligava.  Esse aumentativo, era porque ele era muito severo com seus alunos mais confiados ou desobedientes. Era severo e bom camarada ao mesmo tempo.  Sabia levar a bom termo essas duas qualidades.


          O Pe. Domingos, era um grande professor de História; História do Brasil e História Geral.  Não usava livros para essa matéria.  Estava tudo na sua cabeça, como se esta fosse um computador. Qualquer dúvida sobre essa matéria, era só perguntar ao Pe. Domingos.  Suas aulas pareciam um teatro, ou então um filme de cinema.  Parece que a gente estava vendo as imagens.  Ele falava de uma forma eloquente, e gesticulava, prendendo a atenção de seus alunos.  

          Ao final de cada aula, os alunos estavam todos entusiasmados, repetindo gestos, e fazendo a saudação: Heil Hitler!  Isto, quando o Pe. Domingos descrevia ou narrava os acontecimentos desta parte da história, ou seja, os horrores da 2ª Guerra Mundial.  Mas era muito legal.  Nunca houve professor igual.

          Mas ele não era professor só de História. Ensinava também religião.  Mas, as suas aulas de religião, também eram diferentes.  Ele tinha uma mentalidade aberta, e não se prendia apenas aos dogmas que todos já conheciam.  Não.  Ele ensinava, por exemplo, que a terra tinha milhões e milhões de anos, ou da forma como ele mesmo ilustrava: "Quaquilhões de anos como diz o Tio Patinhas"  (Ele fazia uma alusão divertida, ao personagem do desenho animado de Walt Disney).

          O Pe. Domingos também dizia, que o homem pode muito bem ter sido produto de uma evolução, como dizem os cientistas paleontólogos, em teoria.  E que a estória bíblica de Adão e Eva, seria apenas uma forma poética, alegórica, para dizer que Deus criou o homem.  Adão e Eva nunca existiram como personagens históricos, mas representam o caráter psicológico do homem desde o seu aparecimento na terra até hoje.  O Pe. Domingos ilustrava o homem pré-histórico, com aquela figura do "Brucutu", das estórias em quadrinhos, cujas revistinhas ou tirinhas de jornais  já foram muito populares.

          Depois, mais seriamente, defendia os preceitos morais e bons costumes que deveriam ser observados  em relação ao nosso próximo.  Dizia, que todo trabalho ou serviço, deve ser remunerado.  E, defendia a Igreja, quanto a algumas críticas que diziam ser o ministério dos padres, apenas  "um meio de vida".

          O Pe. Domingos dizia que a Bíblia poderia ser um simples romance da eternidade, ou um tratado de psicologia do comportamento humano, e que a sua correta interpretação, continha maravilhosos ensinamentos e respostas para todas as questões que afligem a humanidade.  E, que os padres tinham o dever de prestar esse serviço, de orientar aqueles que buscavam um sentido para a vida, através da religião.

          Às vezes, o Pe. Domingos colocava uma questão comum da nossa vida, para discussão em plena sala de aula, pelos alunos.  Uma questão, por exemplo, envolvendo pessoas de nossa família.  O que pensavam sobre as regras de conduta, ou quando alguém abusava da confiança em relação às nossas irmãs solteiras... Cada um defendia suas ideias. Já não me lembro com detalhes sobre essas discussões, mas no final, o Pe. Domingos apresentava o ponto de vista, não só dele próprio, mas segundo os preceitos morais vigentes, e segundo o que dizia a religião. 

          O livre arbítrio do homem, é que decidiria seu próprio destino, dizia. Enfim, eram questões de uma profundidade muito grande, difícil às vezes de entender. Mas era um ensinamento diferente de uma aula de religião comum.  Esse padre Domingos tinha conhecimento e sabedoria.  Que saudade desse homem! Hoje não há, aquele que foi aluno desse professor, capaz de dizer que não gostava de suas aulas.  O Pe. Domingos, tenho certeza, está vivo e presente na memória de todos os seus ex-alunos. E veneramos o seu abençoado espírito.
(OBSERVAÇÃO: Na foto acima, vemos os padres: Pe Domingos, Pe. Joaquim, Pe. Michel e Pe. Geraldo, todos professores do Ginásio São Miguel)




         

sexta-feira, 16 de junho de 2017

O LATIM DO GINÁSIO

          Antigamente, depois do curso primário, ingressava-se no chamado curso ginasial.  E no Ginásio, estudava-se o Latim como matéria obrigatória.  Naquele tempo, ou seja, no meu tempo de estudante do primário até o ginasial, até as missas das igrejas, no mundo inteiro, eram rezadas em Latim (pelos padres, claro).


          Era bonito, mas o povão não entendia nada.  Isso durou até 1965 ou 1966. (Em 1966, foi quando terminei meu curso ginasial).  Daí em diante, o Latim foi abolido das Igrejas e das escolas, em consequência de uma reforma ocorrida tanto na Igreja como no ensino em geral.  As missas passaram a ser rezadas na lingua de cada país.  Muitas outras reformas ocorreram, as quais já não me lembro mais. 

          Mas, nesta dissertação, vamos falar sobre o Latim:
Que língua é essa?
O que tem a ver com nosso idioma?
Ainda hoje se usa?

          Vamos por partes, é interessante.
1) O Latim, é uma língua antiga, e era falada nos tempos do antigo Império Romano.  Hoje, é uma língua morta.

2) Mas o Latim tem sua importância por se tratar digamos, de uma "língua-mãe", ou seja, essa lingua deu origem a outras línguas, como o português, espanhol, francês, italiano e até no alemão, existem algumas palavras que se originam do latim, como por exemplo, "das ministerium" (o ministério), "das Prakticum" (o estágio), "das Datum" (a data).

3) Aquele que estuda português a fundo, com certeza deve estudar um pouco de Latim, porque é muito útil.  Em português, temos palavras que são "Latim puro", como por exemplo, nas expressões: "a priori" (a princípio), "Corpus Christi" (corpo de Cristo), "in loco" (no local), "sui generis" (próprio do gênero), "Curriculum Vitae" (descrição de habilidades profissionais ou culturais), enfim, existem muitas outras palavras em Latim, que são usadas com bastante frequência.

          Quando eu estudava no Ginásio São Miguel, lá em Passa Quatro, meus professores de Latim eram o padre Michel e o padre Joaquim.  Nós, os alunos, fazíamos muitas Análises Sintáticas das fábulas de Esopo, um escritor grego.  Era divertido, porque essas fábulas não passavam de estórias infantis, mas que no final traziam uma mensagem de sabedoria profunda.

          Me lembro de algumas fábulas, como: "A assembléia dos ratos", "o cachorro e o lobo", "o cachorro e o seu reflexo na água", e haviam outras que não me lembro mais.  Essas fábulas, de origem grega, eram pequenas estórias escritas em Latim, e tínhamos primeiro, que passar a estória para a ordem direta, ou seja, analisar gramaticalmente o que vinha primeiro, se objeto direto, indireto, verbo e outras figuras gramaticais, e finalmente traduzir a estória para o português, com ajuda do professor.  Isso, apesar de trabalhoso, ajudava enormemente para entender melhor a nossa própria língua portuguesa, que deriva do Latim.

          Hoje em dia, quem estuda Direito, conhece muitas expressões em Latim, que os advogados gostam de usar na redação de seus processos, e que os magistrados entendem perfeitamente.  Vejamos, algumas dessas frases latinas e o seu significado:

"Difficile est langum Subito deponere amorem"
(difícil é esquecer um grande amor)

"Actore non probante réus absolvitur"
(Se o autor não prova, o réu é absolvido)

"Modus operandi"
(modo de trabalhar)

"Modus vivendi"
(modo de viver)

"Causa mortis"
(causa da morte)

"Ad infinitum"
(até o infinito)

"Data vênia"
(dada a licença)

"Habeas corpus"
(apresente o corpo, ou seja, um termo jurídico para dar liberdade ao preso)

          Para terminar, vou contar uma estória caipira, que tem a ver com este assunto:
... ... Há muito tempo, houve uma revolução entre São Paulo e Minas Gerais (isto é um fato verídico). E, devido a essa revolução, durante algum tempo, houve uma certa rivalidade entre Minas e São Paulo (mas nada sério).  E assim, certa vez, um caipira foi a São Paulo, e viu uma placa onde estava escrito em Latim:
          "PRO BRASILIA, FIANT EXIMIA"
          O caipira mineiro ficou lendo aquela placa, pensou, pensou, e por fim disparou sua conclusão:"Ah! Mais isso é disaforo de polista! Tá dizendo que pro brasileiro não vende mais fiado!!!"
          Na verdade, o que a placa dizia era o seguinte: "Pelo Brasil se fizeram grandes coisas".

Latim, língua mãe

A ASSEMBLÉIA DOS RATOS
          Para ilustrar o assunto da redação anterior, vou contar com minhas palavras, uma fábula de Esopo, que ainda guardo na memória: A Assembléia dos Ratos.
... ... No porão de uma certa casa, havia uma quantidade muito grande de ratos.  Uma verdadeira população dessa praga.
          Mas, nessa casa, havia também um gato, que era o terror dos ratos.  Resolveram então os ratos, organizar uma "Assembléia", ou seja, uma reunião para que todos pudessem apresentar ideias de como se livrar do gato.
          Muitas ideias foram sugeridas, mas apenas uma, foi aprovada por unanimidade.  A ideia era a seguinte: colocar um sininho no pescoço do gato, para que, quando este se aproximasse, os ratos escutassem o tilintar do sino, e assim rapidamente se esconderiam.
          Os ratos bateram palmas para essa ideia brilhante, todos aclamaram, menos um: um rato já velho, mas muito sabido.  E, indagado porque não havia se entusiasmado com a ideia, ele respondeu: - Realmente, a ideia parece boa, mas quem de vocês se habilita a colocar o sino no pescoço do gato? Um silêncio se fez então, na Assembléia, e ninguém se apresentou com coragem bastante para essa façanha.
MORAL DA ESTÓRIA: Falar é fácil, difícil é fazer!



JOSÉ E MARIA

Primeira Comunhão

          Pode ser puro saudosismo de minha parte, relembrar coisas de antigamente. Mas eu guardo boas lembranças dos velhos tempos, desde velhos amigos, a outros detalhes bastante interessantes. Lembro por exemplo, da minha primeira escola, o Grupo Escolar Presidente Roosevelt, em Passa Quatro-MG, onde as professoras eram verdadeiras sacerdotisas da educação.



          Lembro também, do meu primeiro dia de aula: havia muitas crianças matriculadas, e sendo assim, o 1º ano foi dividido em duas turmas, em duas salas diferentes.  A escola era muito rigorosa em termos de regulamentos. Todos os dias, os alunos tinham que entrar em forma.  Parecia um colégio militar; ordinário, marche!  Tínhamos que formar filas de dois em dois alunos, à distância de um braço, ou seja, cada aluno colocava sua mão direita no ombro do colega à sua frente, apenas para medir e manter uma distância uniforme.  Depois, cantávamos hinos pátrios: Hino Nacional, Hino à Bandeira...

          Mas o detalhe curioso, era com relação aos nomes das crianças.  Como havia Marias e Josés. Havia dezenas. Para mim, era enfadonho, na hora da chamada.  Todos os dias a Professora declinava o nome de cada aluno, pela ordem alfabética.  Quando chegava nas letras "M" e "J", parecia que não acabava mais: Maria José; - presente... Maria Helena; - presente... Maria Rita; - presente... Maria da Penha; - presente... - Maria do Socorro; - presente... Maria Inês; - presente... Maria Aparecida; - presente... e assim por diante.  Para o nome José, era a mesma coisa: José Benedito; - presente... José Eustáquio; - presente... José Dirceu; - presente... José Maria; - presente... José, José e José; havia tantos que nem me recordo de todos.  Claro que também havia alguns nomes raros, como por exemplo: Herminária, Deusdedit, Floriovaldo, Gervásio, etc, mas eram poucos.

          Tenho a impressão de que naquele tempo, dava-se preferência para os nomes de Maria e José, quiçá por uma influência religiosa, afinal, todos queriam ter o nome dos pais de Jesus.  Hoje, a preferência é para nomes diferentes, como por exemplo, Miguel Arcanjo, Dimitri, Sebastian, Patrick, Igor, Hérica, Amanda, Letícia, etc.  Basta observar os nomes dos personagens das novelas de televisão.

          Recentemente, "sem querer querendo", eu ouvia o papo de uma escurinha no interior de um salão de cabeleireiros;  a escurinha era manicure, e conversava com a freguesa, dizendo: - "eu dei o nome na minha filha de Milady.  O escrivão do Cartório não queria aceitar, dizendo que isso não era nome. Eu disse a ele: é nome sim, eu ouvi na televisão e gostei tanto... Eu quero registrar minha filha com esse nome: é Milady".  Bem, não sei como o tal escrivão teria registrado a criança.  Talvez ele tenha aportuguesado esse nome para Mileide, atendendo ao desejo da mãe.

          Antigamente, principalmente nos tempos bíblicos, cada nome tinha um significado.  Como por exemplo: Jesus, que significava aquele que era o enviado de Deus;  Abraão, que significava pai de uma grande nação.

          Não sei porquê, mas cada nome parece ter certa influência na vida de cada um.  Os antigos acreditavam muito nisso.  A propósito, a minha avó já dizia: - "todo João é bobo e todo Pedro é louco..."  Naturalmente, que isto não deve ser levado muito a sério, mas a vovó tinha razão.  Em cada um destes nomes, há um quê de bobeira e de loucura.

          Certa vez, minha sobrinha queria batizar o seu filhinho recém nascido, de João Pedro.  Eu lembrei do que dizia minha avó, e eu disse a ela: - "Oh coitado! Não faça essa maldade com a criança..."  Ela quis saber o porque.  Eu pensei, pensei, e disse: bom, deixa prá lá...

          Sugiro, (não é nome japonês), que cada um procure saber um pouco do seu próprio nome através do seu horóscopo pessoal, ou da numerologia do nome.  Caso conveniente, tratem de mudar a sua forma de expressão.  Aliás, é o que fazem os nossos artistas de televisão, não é mesmo?

          "Meu eu morre a cada instante, e na transmutação se revela o eterno..." (Chuan Tsé).

(OBSERVAÇÃO: na foto acima, uma lembrança da minha primeira comunhão realizada no Grupo Escolar Presidente Roosevelt. Nesta foto estão todos os meus colegas do 1º ano primário)

JULINHA

a menina da escola          Vou contar uma estória, que tem inicio nos meus tempos do Grupo Escolar Presidente Roosevelt, em Passa Quatro-MG.  Foi lá pelos idos e bons tempos dos anos de 1958, 1959. Eu me lembro, "tudo está ainda diante dos meus olhos"... Eu tinha 9 anos de idade, e estava no terceiro ano do curso primário.  Na minha sala de aula, muitos alunos e alunas, nessa mesma faixa etária.


          Na hora do recreio, meninos não se misturavam com meninas.  Haviam pátios separados.  Mas, todos os dias, ao final da aula, os alunos deixavam o Grupo Escolar, e saiam caminhando pela rua, para suas casas.  As crianças iam sozinhas.  Nenhum pai ou irmão tinha carro nessa época para levar as crianças.  E a caminhada de volta para casa, era tranquila.  Igualmente, as Professoras também iam a pé de volta para suas casas, era tudo muito natural.

          Era comum também, ver uma Professora rodeada de crianças, principalmente meninas, caminhando juntas num cortejo até gracioso, em direção às suas respectivas casas. Na minha sala, ou na minha turma, também acontecia o mesmo. E eu, às vezes me juntava a esse cortejo, e seguia junto com as meninas e a Professora, nessa caminhada de volta para casa.  Mas, no meu caso, era por um motivo especial: nesse grupo de alunos e alunas acompanhando a Professora, havia uma menina, que eu achava muito, mas muito bonitinha... Ela se chamava Julia, e todos a chamavam de "Julinha".  Eu só olhava para ela, admirando-a, mas parece que ela nem me notava.  Era apenas uma admiração, eu achava que a Julinha era a mais bonitinha da Escola.  

          Éramos todos crianças, e namoro, nunca passou pela minha cabeça nessa idade.  Eu só olhava, nada mais.  Que manina bonita, a Julinha.  A mais bonita da Escola.
           Mas o tempo passa, implacavelmente, e nossas vidas tomam rumos diferentes. Dando um salto no tempo, agora estamos no ano de 2001, e eu, há muito tempo, deixei para trás a vida tranquila e bucólica de Passa Quatro.  Mas, o destino me trouxe nesse ano (2001), duas surpresas, uma triste e outra alegre, assim simultaneamente, e no mesmo dia.  Vou contar como aconteceu, foi assim:

          Meu tio Carlos, já havia falecido há algum tempo, e agora, a sua mulher, de nome Zafiriça Papadoplo (ou popularmente "Paparuna", como era conhecida), coitada, morreu.  Ela já vinha sofrendo com problemas de saúde.  Bem, é a vida, Deus assim determinou.  Eu saí de Resende, onde agora tenho minha residência, para ir ao seu enterro, lá em Passa Quatro.  Mas eu me atrasei um pouco na viagem, e quando lá cheguei, ela já se encontrava dentro de um caixão, na Igreja Matriz da cidade, e a missa de corpo presente já havia começado.

          Mesmo assim, encontrei um lugar próximo ao altar, e pude assistir à sua missa.  Terminada a missa solene, fui acompanhando a movimentação das pessoas presentes, e quase na porta de saída da Igreja, fui abordado por uma mulher, que me chamou pelo nome, e assim me falou: - Guilherme! Como vai?  Eu sou a Adelaide, fui sua professora, lembra? ... ...

          Confesso que ela me surpreendeu, e levei alguns segundos para me situar e lembrar; - Ah, sim, Dª Adelaide?  Nossa, que surpresa, que saudade... Ele ainda me disse o seguinte: - Lá em casa, ainda guardo os trabalhos que você fez para o jornalzinho da escola, lembra?

          Eu não me lembrava com detalhes desse tal jornalzinho, mas disfarcei e disse: - sim, Dª Adelaide, há quanto tempo, ainda tem guardado esses trabalhos escolares?  Nesse momento uma outra mulher que estava junto com a Dª Adelaide, interrompeu e disse:

          - E de mim, você se lembra? - Devo confessar que também não me lembrava assim de momento, mas acho ue ela percebeu a minha dúvida, e logo tratou de falar: - Eu sou a Beatriz Galvão, freguesa da sua tia... Quando ela disse o seu nome, imediatamente me lembrei:  ela era aquela moça que se casou um dia, em Passa Quatro, e para quem a minha tia fez um vestido de noiva, muito bonito, todo trabalhado.  Essa Beatriz, filha do casal Nair Galvão e Francisco Galvão Cesar, conhecido como Chiquinho Galvão, e que na época, era o Prefeito da cidade!  Então eu disse para ela:

          - Sim, eu me lembro de você, e guardo também fotos antigas do seu pai.  Conversamos mais alguns minutos e nos despedimos, porque eu devia acompanhar o cortejo fúnebre, que já seguia em frente.  Depois, quando eu já estava ao lado do meu carro, estacionado bem próximo da Igreja, fui novamente abordado:

          - Guilherminho? Eu sou a Julinha, fui sua colega de escola! - Confesso que dessa vez, a surpresa foi maior ainda, e assim meio desconcertado, disfarcei o espanto e conversei com ela poucos minutos, sem saber direito o que falar.  Ela estava mudada, uma moça bonita, um pouco diferente daquela Julinha da minha escola primária.  Ela me disse: - apareça por aqui de vez em quando, você sumiu de Passa Quatro... - Eu disse que sim, que apareceria sim, mas no fundo, eu sabia que não poderia cumprir a promessa... Bem, foi assim, nos despedimos, e eu continuei surpreso, interiormente.

          Puxa, três pessoas, três surpresas agradáveis no mesmo dia, simultâneas, apesar do motivo pelo qual eu ali me encontrava, ou seja, um sepultamento...  

          Isso me deixou pensativo por vários dias, mas por fim, conclui meus pensamentos com um veredicto rápido em duas palavras: MILAGRE, ACONTECEM!  (e parece que o mundo fica mais bonito quando boas coisas acontecem)...  (Nesta foto, Beatriz Galvão e Gary)
Beatriz Passa Quatro


VEIO PARA JUNTO DOS SEUS

          Gosto muito de ouvir, e de contar estórias.  Algumas são muito interessantes, outras servem para nos ensinar alguma coisa, ou ilustrar um fato.  A propósito, eu me lembro de uma estória quase perdida na noite dos tempos... Verídica. Só não me recordo, o nome do personagem, mas trata-se de um garoto esperto, que mais tarde veio a ser muito conhecido. Pois bem, a estória qaue vamos contar, envolve esse garoto, sua professora, sua escola, seus coleguinhas e também um burro;

          ... Estavam reunidos numa sala de aula, o garoto, a professora, e demais alunos da classe de um curso primário.  A escola, pelo fato que vamos narrar, certamente ficava em algum lugar parecido com o terreno de uma fazenda, ou seja, num campo, distante da cidade.

          Certa vez, a mestra e os alunos, foram surpreendidos com a entrada inesperada de um animal, melhor dizendo, de um burro, em plena sala de aula.  O asno, talvez pela algazarra da criançada ante a sua presença inusitada, correspondeu com um gostoso relincho (ou zurro, que lhe é próprio).  A professora, nervosa e apavorada, ordenou desesperadamente que seus alunos expulsassem o intruso da sala.  E as crianças, alegremente assim fizeram, e o burro voltou para o seu pasto verde.

          Refeitos daquele momento de confusão, de barulho e de risos pelo acontecimento incomum, a professora disse então aos alunos: - Aproveitemos este incidente; quero que todos façam uma redação, narrando o episódio que acabamos de vivenciar.

          E todos começaram a trabalhar no pedido da professora, menos o garoto, o personagem da nossa estória, que ficou a pensar, como que olhando para o alto, para as moscas voando.  O tempo se esgotava, e a mestra pedia que todos terminassem o trabalho.  O garoto então, escreveu no seu caderno, uma única frase: "Veio para junto dos seus, e os seus o enxotaram"... 

          Nesta única frase, o garoto simplesmente sintetizou o acontecimento, citanto uma passagem bíblica, cujo texto correto, seria mais ou menos assim: "veio para junto dos seus, e os seus dele se apartaram"...  numa referência a Cristo, que foi renegado por seus amigos.

          Bem, o nosso garoto provou que era mesmo perspicaz, e a estória termina aqui. Que nota você daria para o garoto?

GRUPO ESCOLAR

Passa Quatro, MG

          Eu me lembro com saudade, das minhas professoras do primário, no Grupo Escolar Presidente Roosevelt, em Passa Quatro-MG.


          Primeiro, foi a Dª Isaura, no meu 1º ano primário.  No segundo ano, foi a Dª Guiomar, no terceiro ano, foi a Dª Adelaide, e finalmente no quarto ano, foi a Dª Marisa, na época, procedente de Belo Horizonte.  Ela veio para Passa Quatro, juntamente com seu marido, que era engenheiro da estrada de Ferro (RMV-Rede Mineira de Viação).

          Todas essas professoras eram grandes mestras, muito dedicadas aos seus alunos. Dª Isaura, nos ensinava as matérias de praxe, como Linguagem (Português), Aritmética (Matemática), e também nos ensinava Religião.  A propósito, a minha "Primeira Comunhão" foi realizada nesse primeiro anono primário, e no próprio Grupo Escolar, num evento religioso realizado ao ar livre, organizado pela Diretora, que se chamava Dª Carmen.  Guardo uma foto desse evento, onde reconheço muitas pessoas presentes, e me recordo de muitos amigos e colegas da época, 

          Naquela época, em Passa Quatro, haviam muitos alunos, desde crianças da cidade, da área rural e dos bairros mais distantes, e só tínhamos esse Grupo Escolar.  Por esse motivo, havia dois turnos de aulas, sendo de manhã, das 7 horas até 11 horas e à tarde de 13 às 16 horas.  Os alunos do 1º e 2º ano, estudavam na parte da tarde, e os alunos do 3º e 4º ano, estudavam de manhã.  

          Para o 1º ano, haviam duas turmas em 2 salas separadas; a sala dos que iniciavam o seu curso primário, e a outra sala dos alunos repetentes.  Para essa turma, dos repetentes, a sala era conhecida como "sala do 1º ano adiantado".  Quando eu comecei meu curso primário, eu já sabia ler e escrever, pois eu havia aprendido em casa, desde meus 5 anos (tendo como professores meus tios Guilherme Jr e Clara Köhn). 

          Sendo assim, eu comecei  entrando direto na  "sala do 1º ano adiantado" (dos repetentes), e na minha infantilidade, eu tinha prazer em falar a quem perguntasse, que eu estava no 1º ano adiantado.  Que bobo fui, pois podiam interpretar que eu era um "repetente".

          Mas, voltando à Dª Isaura, por vezes ela dizia: - hoje vamos fazer uma excursão, e saia com seus alunos, todos em forma, dois a dois, em fila, para um passeio fora da escola, num jardim próximo, o Jardim dos Leões, como era chamado.  Nesse jardim, que era um recanto de lazer, havia muita vegetação, árvores frondosas, bancos de madeira espalhados por entre o jardim, muitas flores e um pequeno lago de águas limpas, plantas aquáticas e peixinhos coloridos, vermelhos, amarelos, brancos.  

          E a boa professora Dª Isaura, ia explicando às crianças (seus alunos), os nomes das árvores e das flores; - estas flores são as margaridas, as rosas, bocas de leão, etc, etc.  Terminado o passeio, voltávamos para a sala de aula, e a Dª Isaura então, mandava que todos fizessem uma "composição", ou seja, uma redação sobre o que tinham visto no passeio. 

          E todos redigiam naquela simplicidade característica das crianças.  A maioria escrevia coisas bem simples, mas havia também composições (redações) interessantes.  Me lembro também, que em nossa sala de aula, havia uma espécie de painel (tripé de madeira) com várias gravuras grandes que podiam ser visualizadas uma por uma. Eram gravuras de paisagens diversas; uma fazenda, um rio, montanhas, pessoas, etc. 

          Em outros momentos, a Dª Isaura escolhia uma gravura qualquer, e pedia que os alunos fizessem uma composição sobre aquele tema, ou seja, sobre o que a gravura mostrava. Eu me lembro, que certa vez a minha redação era mais ou menos assim: "Eu estou vendo uma menina. Ela se chama Alvarina (OBS: eu não sei de onde eu havia tirado esse nome, mas eu o achava bonito. Devo ter visto em algum lugar).   Continuando: ... Alvarina tem um cachorrinho. O cachorrinho se chama totó.  Eles moram em uma fazenda.  Na fazenda tem galinhas, patos, cavalos e vacas..."

          Bem, eu tinha 7 anos, e assim eu escrevia na minha simplicidade de criança.  As meninas mais espertas e desinibidas, tinham que decorar um pequeno trecho de uma poesia, e recitar na frente da sala, como se fosse um auditório.  Eu me lembro de uma menina chamada Lucia Caetano.  Ela sabia de cór um recital de uma estorinha infantil, intitulada "Nhá Barbina".  Era uma estorinha um tanto engraçada para a época, que até outras professoras pediam para a Lucia fazer o seu recital em qualquer evento festivo do Grupo Escolar.  E, de tanto ouvir essa estorinha, eu também acabei guardando na memória essa estorinha da "Nhá Barbina".  No final deste comentário, vou transcrever essa estorinha completa, para deixa-la aqui registrada.

          Tenho uma boa lembrança também, da Dª Adelaide, minha professora do 3º ano. A casa dessa professora, era uma extensão da escola, ou seja, do Grupo Escolar;  eu me lembro que de vez em quando, ela organizava reuniões em sua casa, com alguns alunos, para fins de trabalhos escolares, e que depois, tais trabalhos eram levados para a sala de aula, com intuito de incentivar outros alunos.
Essas reuniões escolares na casa da Dª Adelaide, eram na verdade, uma aula "extra", com os alunos mais aplicados.  Ela tinha prazer em dar aulas.  Ela também ensinava os alunos a rezarem no inicio e ao término da aula.

          Me recordo também, que eu gostava de desenhar, e quando eu estava no 2º ou 3º ano (não me lembro exatamente), eu ilustrava minhas "composições" (redações), com algum desenho inspirado em figuras ou revistas.  Bem, a professora manda fazer uma redação.  Tema livre. Então, eu fiz uma redação (composição), sobre uma menina da minha sala, chamada Rosana Perroni.  Não me lembro das palavras que usei na redação, mas acho que eram palavras bem simples.  Mas, eu fui motivo de risos e de encarnação por parte dos meninos e meninas, porque a professora mostrou para todos da classe a minha redação e o desenho que eu havia feito da nossa coleguinha, uma menina com duas tranças compridas, soltas, amarradas na ponta com uma fitinha de tecido, exatamente como usava nossa coleguinha, a Rosana.  Não sei, mas talvez ela ainda se lembre desse fato até hoje. 

A seguir, uma foto antiga das professoras: Dª Isaura, Dª Guiomar, Dª Julia Siqueira, e outras...

Dª Isaura, Dª Guiomar, Dª Julia Siqueira e outras

A seguir:
O RECITAL E MONÓLOGO DA "NHÁ BARBINA"  (ENCENADA POR LUCIA CAETANO, DESDE O 1º ANO PRIMÁRIO).

Eu e a Nhá Barbina, fumo convidado pruma festa.
E a Nhá Barbina, quiria ir.  (Obs. A Lucia dava uma ênfase nesta fala, batendo com um punho fechado na outra mão);
- Mais num vamo, Nhá Barbina.  (Com ênfase na fala)
- Mais eu quero ir...  (Lucia dando de ombros nesta encenação)
- Mais num vamo, Nhá barbina...
- Mais eu quero ir...
- Então vamo.
E então nóis fumo indo, fumo indo, inté chegar numa lagoa.
E a Nhá Barbina quiria nadar.  (Lucia repete os gestos)
- Mais num nada, Nhá Barbina !
- Mais eu quero nadar...
- Mais num nada, Nhá Barbina !
- Mais eu quero nadar...
Então nada.
Quando ela foi pondo o dedão na água, ela gritou: - Socorro, socorro, tô me afongando...
Pobre da Nhá Barbina, saiu toda molhada !
Intão nóis fumo indo, fumo indo, inté chegá na festa: lá tinha: leitão, frango assado, pipoca, tinha inté rojão. 
E a Nhá Barbina quiria sortá rojão!
- Mais num sorta, Nhá Barbina!
- Mais eu quero sortá...
- Mais num sorta, Nhá Barbina!
- Mais eu quero sortá...
- Intão sorta.  Eu vou te ensiná.  Ocê pega o forfi, risca, e quando o rojão fizer: Tchsssssssss, ocê sorta, hein Nhá Barbina, Ocê sorta, hein, Nhá Barbina!
Ela pegou o forfi, riscou, e o rojão fez Tchsssssssssss - Sorta, Nhá Barbina, Sorta, Nhá Barbina!
- Mais eu num quero sortá...
- Sorta, Nhá Barbina!
- Mais eu num quero sortá...
De repente o rojão fez...: BUUUMMMMM !
Pobre da Nhá Barbina, morreu toda queimada...







quarta-feira, 14 de junho de 2017

APRESENTAÇÃO


APRESENTAÇÃO I

          Este Blog, tem por finalidade contar estórias em forma de crônicas.  Coisas sobre as quais gosto de escrever e compartilhar com os amigos.  Estórias espirituosas, vividas ou não, estórias sérias ou fictícias, mas que tenham assim um "soft power" (poder suave) de fazer bem ao nosso espirito.


          Se estas crônicas alcançarem esse propósito, me sentirei recompensado.

"Cumpre falar com simplicidade das ideias complicadas com sutileza das ideias simples"

                                                                        (Jean Cocteau)

APRESENTAÇÃO II
Meu nome é Guilherme Köhn, e este é o meu Blog, PINHEIRINHO. Para quem não me conhece, faço esta minha modesta apresentação pessoal, dizendo apenas, que sou de origem mineira (Passa Quatro-MG), cidade que considero meu berço cultural, mas que atualmente vivo em Resende, Estado do Rio de Janeiro, cidade igualmente rica em cultura, artistas e poetas.  Minha intenção, é brindar meus leitores, meus amigos, companheiros e colegas, alguns dos quais também estão inseridos nestas minhas lembranças, e fazem parte  da minha história ou estórias.

O PREFEITO

Homem do Campo
          Na minha pequena cidade natal, de Passa Quatro, que fica no grande estado de Minas gerais, havia uma senhora, que tinha cinco filhos.  Quatro rapazes e uma menina.  Era uma família pobre, paupérrima.  O marido desta senhora, tinha uma semelhança com o personagem caipira conhecido como Jeca Tatu.  

          Era idêntico, pelo seu jeito de andar, suas precárias condições de vida e saúde, sem muito ânimo para trabalhar.  Viviam em uma choupana de barro, coberta de sapé, construída no terreno de um fazendeiro rico, de nome "Toin Parva" (Antonio Paiva).  A choupana ficava em meio a um "calipá" (plantação de eucaliptos da fazenda).

          Um dos filhos, trabalhava no "leiticino" (Lacticínio).  Apesar da sua casinha localizada bem longe da cidade, nos arredores de uma fazenda, esta pobre senhora diariamente estava na cidade, sempre em busca de algum alimento que pudesse levar para casa, fruto da generosidade que nunca faltava, por parte da boa gente da cidade.  Muitas famílias mineiras, piedosas, sempre lhe ajudavam.

          Nessa época, eu era um adolescente, e me escapava o entendimento da vida com mais profundidade, e até acreditava com uma certa dose de ingenuidade, em muitas coisas que ouvia das pessoas.  Aquela senhora, gostava de bater papo, sempre a reclamar da vida, e falar dos seus problemas. Contava, por exemplo, que um de seus filhos, não era "bão da cabeça" (sofria uma espécie de disritmia cerebral, conforme fiquei sabendo mais tarde); o outro filho, também estava sempre doente; a menina frequentava a escola, mas não aprendia nada.  Mas, em compensação, ela tinha um filho que era Prefeito...

          Prefeito?!! De qual cidade será, porque desta não é, pensei comigo mesmo quando ouvi sua estória, nas costumeiras tagarelices com os vizinhos.  Confesso que fiquei mesmo pasmado, em saber que aquela senhora, pobre daquele jeito, tinha um filho que era, imaginem... Prefeito !

          Somente muito tempo depois, é que me dei conta do que ela realmente queria dizer, ou seja, que todos os seus filhos eram problemáticos, e apenas um era perfeito.

          Hoje, relembrando estas estórias, percebo que aprendi outras palavras deste verdadeiro dialeto caipira, como por exemplo:
"Treis antonti"; que quer dizer, trás-ante-ontem, no dia anterior ao de anteontem...
"Hospi": para dizer hóspede...
"Lata discupada"; vasilha desocupada...
"Cadifó"; caixa de fósforo...
- "A água da pulano" (a água está fervendo);
- "Pó pô pó? (pode colocar o pó?)
- "Pó pô";  (pode)
- "Café tá fraco"  (o café está fraco)
- "É café co poco pó, pá popá o pó" (é café com pouco pó, para economizar)...

          Moral da estória: parece que o pobre sofre uma escassez de tudo. Economiza até nas palavras. PÔ...!